Declaração sobre a situação das mulheres rurais: falta de terras, fome e sistemas alimentares destruídos

Nós, as mulheres rurais que somos os principais produtores de alimentos para a população global, somos obrigados a trazer à luz os desafios prementes que enfrentamos: a falta de terra e a fome. As mulheres rurais desempenham um papel indispensável no sector agrícola, contribuindo significativamente para a segurança alimentar global e familiar. Somos os guardiões firmes das sementes indígenas, preservando gerações de património agrícola e de biodiversidade. Através do nosso cuidado e conhecimento intergeracional, salvaguardamos sementes tradicionais que são resilientes, diversas e adaptadas aos ecossistemas locais. Estas sementes representam a essência da agricultura sustentável, incorporando uma ligação vital ao nosso passado agrícola e a um futuro sustentável. Somos a espinha dorsal das nossas comunidades, trabalhando incansavelmente em quintas e pequenas parcelas para cultivar e produzir alimentos que alimentem não só as populações locais, mas também cheguem às mesas de todo o mundo.

Lamentavelmente, deparamo-nos com a dura realidade da falta de terra, um obstáculo formidável que nos nega o direito essencial de cultivar e possuir a terra onde trabalhamos. Esta privação perpetua um ciclo vicioso de pobreza, deixando as mulheres rurais apanhadas numa luta interminável para sobreviver e sustentar as nossas famílias. Além disso, apesar do nosso papel crucial na produção de alimentos, um número chocante de mulheres rurais e as suas famílias sofrem de fome e desnutrição, levando a circunstâncias trágicas, como o suicídio, por não conseguirmos nos alimentar. Esta disparidade gritante entre o papel indispensável que desempenhamos na alimentação do mundo e a nossa própria insegurança alimentar é ao mesmo tempo inaceitável e profundamente preocupante.

Os sistemas alimentares falidos agravam ainda mais os nossos desafios, amplificando as barreiras enfrentadas pelas mulheres rurais em comunidades com acesso limitado ou inexistente à terra e à água:

1. Insegurança Alimentar Ampliada por Sistemas Alimentares Destruídos: Sistemas alimentares ineficientes, desiguais e ambientalmente insustentáveis ​​contribuem para exacerbar a insegurança alimentar entre as mulheres rurais. Canais de distribuição deficientes, práticas de mercado injustas e mecanismos de apoio inadequados levam à redução do acesso a alimentos nutritivos para nós e para as nossas famílias. Os sistemas alimentares locais são destruídos para que os mercados globais possam ganhar vantagem de mercado, mesmo em aldeias remotas.

2. Falta de acesso à terra e à água: Muitas mulheres rurais lutam para aceder e controlar a terra e os recursos hídricos, fundamentais para a agricultura sustentável. O acesso limitado a terras irrigáveis ​​e a fontes de água fiáveis ​​diminui a nossa capacidade de produzir alimentos suficientes, perpetuando o ciclo de fome e pobreza.

3. Degradação Ambiental com Impacto na Produção de Alimentos: Desafios ambientais como as alterações climáticas, a desflorestação, a degradação do solo e a perda de biodiversidade têm um impacto crítico no nosso sistema ecológico, intensificando a luta para cultivar alimentos suficientes para sustentar as nossas famílias e comunidades. A degradação da biodiversidade, incluindo a perda de diversas espécies vegetais e animais, perturba ecossistemas delicados, perturba os ciclos de polinização e enfraquece a resiliência natural dos nossos sistemas agrícolas, representando uma ameaça urgente à nossa segurança alimentar. Como mulheres rurais, testemunhamos em primeira mão as profundas consequências deste desequilíbrio ecológico na nossa capacidade de cultivar culturas diversas e nutritivas, enfatizando a necessidade de práticas agrícolas sustentáveis ​​e conscientes da biodiversidade.

4. Políticas e alocação de recursos desiguais: As políticas que não dão prioridade às necessidades das mulheres rurais e a falta de alocação equitativa de recursos marginalizaram-nos ainda mais, prejudicando o nosso potencial para aumentar a produtividade agrícola e melhorar os meios de subsistência.

5. Falta de sistemas financeiros para desenvolver alternativas concretas, como a agroecologia, em vez disso, os subsídios vão para empresas multinacionais para fornecer fertilizantes/pesticidas químicos e sementes OGM.

Apelamos urgentemente aos governos, à sociedade civil e às organizações internacionais para que abordem estas questões prementes:

– Reformas políticas e legislação de apoio: Os governos devem promulgar e aplicar políticas que promovam os direitos à terra para as mulheres rurais, garantindo acesso e propriedade equitativos. A legislação também deve abordar práticas de mercado justas e capacitar-nos para participar plenamente no sector agrícola.

– Agricultura Sustentável e Práticas Resilientes ao Clima: Incentivar e apoiar a adopção de práticas agroecológicas sustentáveis ​​e técnicas agrícolas resistentes ao clima para mitigar os desafios ambientais e aumentar a segurança alimentar das mulheres rurais.

Somos os guardiões da terra, da vida, das sementes e os cultivadores do sustento. Nossa resiliência e determinação não têm limites. É hora de um compromisso colectivo para enfrentar estes desafios e criar um mundo onde as mulheres rurais tenham acesso à terra, à água e aos recursos essenciais para uma vida digna e um futuro livre da fome.

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